quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Dinheiro não nasce em árvore, mas água cai do céu

A coleta de água da chuva é o sistema sustentável mais comum em obras nos municípios de Porto Belo, Itapema e Bombinhas. Durante as visitas, todos os engenheiros e arquitetos disseram que a água da chuva é usada na manutenção do condomínio.

A coleta de água da chuva diminui o valor da conta.
Sem o tratamento, serve apenas para regar as plantas,
lavar a calçada e o carro, por exemplo. (
Divulgação/Tigre)
A coleta acontece no telhado, terraços do prédio ou no térreo. Depois vai para uma cisterna. Segundo o engenheiro civil Alessandro Pfitzer, a água é usada geralmente na limpeza do prédio porque não tem tratamento com cloro. De acordo com Olimpio dos Santos, dono de uma construtora, um engenheiro químico precisa ser contratado. Isso deixa o sistema mais caro que pagar o serviço da Companhia Catarinense de Água e Saneamento (Casan).

Segundo estimativa do empreiteiro Jarylson Claret, a construção de um sistema de coleta de água da chuva é cara. Mas, ao longo de três anos, o investimento volta em economia na conta. (Alessandro estima que o condomínio planeje ter entre 20% e 30% de economia.) O custo depende do tamanho do telhado, altura da casa, entre outros detalhes. Claret estima que a partir de R$ 5 mil se pode montar um sistema básico, com um reservatório de 5 mil litros.

Com R$ 500 é possível fazer uma cisterna com a mesma capacidade. Largamente implantado por ONGs internacionais no Nordeste brasileiro, Claret diz que é o “o sistema mais barato que existe”. A água cai do telhado para dentro de um tanque e de lá é retirada com baldes.


Só por garantia

O engenheiro civil Alessandro Pfitzer garante que não faltará água para a manutenção do prédio: “Sempre chove. Vai sempre repor.” Caso o reservatório do condomínio fique vazio, uma boia separa 2 mil litros na caixa d’água. “É difícil chegar nesse tanto, mas está previsto para não terminar.”

Como a água da chuva não substitui totalmente o abastecimento da Casan, é preciso estar ligado à rede. “Passa um período sem chover, por exemplo”, acrescenta o empreiteiro Jarylson Claret. “Aí tem taxa mínima. Mesmo que você tenha uma nascente na sua casa, é obrigado a ter água da Casan.”

De acordo com o gerente regional da Casan em Porto Belo, José Lucas Guerreiro, a empresa tem autonomia para medir o consumo de água em locais abastecidos por nascentes ou poços artesianos e cobrar pelo consumo. A prática tem base na lei 9.443/97, na qual está escrito que “a água é um bem de domínio público”. A taxa é igual à cobrada normalmente, sem sofrer acréscimos. Já a água da chuva não sofre controle.

Veja gráficos com as médias mensais de chuva, segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Santo de casa não faz milagre

Dois condomínios na praia de Bombas, em Bombinhas, tratam a água usada. Segundo a arquiteta Luciana Guarienti e o engenheiro Alessandro Pfitzer, mesmo depois do tratamento, a água não serve para o consumo. No prédio que Luciana ajudou a construir, a água é usada nos vasos sanitários. Veja abaixo como o sistema funciona:



Venha cedo porque a água não vai ficar sempre quente!

Os edifícios visitados em Bombinhas usam painéis solares para aquecer a água. O engenheiro civil Alessandro Pfitzer considera o sistema ideal porque, além de o sol ser uma fonte gratuita, “é um investimento que se paga com o tempo”. “Depois de uns 8 ou 10 anos”, completa Amilcar Bogo, arquiteto especialista em sustentabilidade. O sistema de coletores solares economiza entre 50% e 70%, dependendo da hora do dia. “Tem o dia inteiro para aquecer a água,” que, segundo Bogo, pode continuar quente até às 21h.

De acordo com a arquiteta Luciana Guarienti, instalar placas solares só deixa a obra mais cara porque é mais um serviço para ser feito. Apesar disso, a conta de luz vem mais barata porque se usa menos a energia da rede das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc). Segundo Amilcar Bogo, a casa ou prédio deve manter um sistema misto − solar/elétrico ou solar/gás − para os dias de tempo fechado.

Esquema simplificado: As placas aquecem a água
quando ela passa. (Reprodução/
blog Lú Moura)
O condomínio que Alessandro ajudou a construir não tem o sistema porque foram colocados relógios individuais de água. “Uma pessoa gasta mais água que a outra. Acaba dando problema depois porque não dá para fazer medição individual. Quando é tudo dividido, o pessoal gasta à vontade. Quando cada um paga o seu, aí economiza bastante”, explica Alessandro.

A água passa por trás dos painéis solares, é aquecida e depois vai para um reservatório. O número de placas é calculado pelo número de moradores e a quantidade de apartamentos e banheiros. Elas devem ficar inclinadas em direção à Linha do Equador, onde a radiação solar é mais forte. Também se usa painéis para transformar o calor do sol em energia elétrica, que fica em uma bateria.

Sol na medida certa

Aproveitar a luz do dia ajuda a economizar com energia elétrica. Uma opção para deixar a parte de dentro da casa mais iluminada é a instalação de uma claraboia, um tipo de janela no alto do prédio ou da casa. “Onde eu mais recebo radiação solar é na minha cobertura”, diz o arquiteto Amilcar Bogo, especialista em sustentabilidade.

A entrada de claridade tem que ser distribuída porque o ambiente esquenta muito quando a luz fica concentrada. Por isso, não se deve usar um vidro totalmente transparente, nem colocar uma claraboia muito grande. “Não preciso de muita área para ter bons níveis de iluminação”, afirma Bogo. “Uma claraboia bem projetada pode trazer uma economia de 80% a 90% com iluminação” e também evita ligar o ar-condicionado, que gasta bastante eletricidade.

A luz do sol bem distribuída deixa o ambiente claro em vez de quente.
(Kunimund Krönke Junior/sxc.hu)
Olhe aonde pisa!

Se você prestar atenção na calçada, vai perceber que já pisou várias vezes em um destes blocos. Talvez até levou uma “lembrancinha” da rua na sola do seu sapato ou tênis. Para o arquiteto Daniel Amorim, “as pessoas ainda costumam jogar chiclete no chão”. Como o doce só sai com lava a jato, que gasta bastante água, o paver pode não merecer o apelido de “sustentável”.

Usado em calçadas e ruas, o paver é um bloco
que deixa a água se infiltrar no solo. 
(sxc.hu)
Para Amilcar Bogo, arquiteto especialista em sustentabilidade, esse tipo de material de construção é, no máximo, “um pouco sustentável”. Isso porque o paver é feito de areia ou misturando algum resíduo que ia ser jogado na natureza ao cimento, que dá resistência e ligação ao bloco e é fabricado a partir da mineração do calcário.

Mas até o concreto não é mais ‘puro’ porque a fabricação já usa resíduos da indústria siderúrgica e cinzas das usinas termelétricas. “É um cimento com pitada de sustentabilidade. Barateia o custo de produção, sem comprometer a qualidade do produto.”

Existe também aquele que não é “nada sustentável”, não só porque gasta muita água na limpeza. “É aquele de concreto, pouco poroso, lisinho”, diz Amilcar Bogo. O paver é bastante usado porque é um bloco poroso, que deixa a água da chuva se infiltrar no solo e ao mesmo tempo tem a resistência para que as pessoas possam pisar nele. Se não for assim, “não mudou nada em relação a qualquer outro bloco de concreto”.

0 comentários:

Postar um comentário