quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A vida sobre o mar

Pescadores costumam sair de casa ainda de madrugada. E a comunidade inteira do Araçá acorda com eles, entre 5h30 e 6h. A maioria dos pescadores locais trabalha para a indústria e passa até um mês no mar. Após tomarem rapidamente o café da manhã, eles encontram os mercadinhos do bairro abertos para comprar mantimentos. Os redeiros também acompanham a rotina para entregar as redes de pesca remendadas.



Então, os pescadores embarcam no cais. Já os que trabalham artesanalmente entram em pequenos barcos para remar até embarcações maiores, ancoradas no fundo. Com o dia claro já estão longe da terra firme para colocar a rede na água.

De olho em algum movimento na rede, os pescadores esperam até o fim da tarde, entre 18h e 18h30, para ver se tem peixe (ou camarão, dependendo da época do ano). Nesse tempo, um deles fica no comando, enquanto o outro fica atento às nuvens no céu. Os pescadores também trocam informações com outros barcos por rádio.

Toda essa atenção desgasta. “O mar dá muita fome”, diz José de Aquino, pescador artesanal. Junto com o pão, ele traz uma garrafa térmica, diferente da época do “seo” Silvestre Marques, 84 anos, quando o café esfriava em uma garrafa comum. Ele levava para o mar bolo de farinha de milho, “feito na folha de bananeira”, ou pamonha. Quando alguém passava mal, não faltava aquele pacote de biscoito ou bolacha. Apesar da variedade, “a vida naquele tempo era um miseril. Hoje todo mundo tá comendo bem”.

Para o almoço, o cardápio sempre tem peixe, que fica guardado no porão, e farinha. Com algo mais para acompanhar, é o suficiente, já que a tripulação é pequena e, diferentemente da pesca industrial, voltam no mesmo dia para terra.

O problema vira oportunidade

José Jonceli de Aquino e um colega pescador
foram os pioneiros dos bares flutuantes.
Depois do verão eles se revezam
entre a pesca artesanal durante a semana
e o bar aos fins de semana. 
(Kunimund Krönke Junior)
No final dos anos 1990, a chegada de barcos de passeio começou a mudar a rotina no bairro Araçá. José Jonceli de Aquino e um colega pescador montaram uma balsa para vender mariscos e ostras – criados na região próximos à costa - no verão, enquanto não podiam pescar. Certa vez, uma cliente sugeriu que o marisco fosse preparado e consumido ali mesmo. Então, José e seu colega seguiram a dica e montaram um pequeno barraco, com balcão de atendimento e mesas.

Atualmente três bares flutuantes se dividem no atendimento de até 140 barcos por dia. Thiago Pigozzi Bazzanella, assessor comercial de uma famosa marina de Balneário Camboriú, conta que a enseada do Caixa D’Aço “é um ponto turístico náutico bastante conhecido e frequentado pelos navegadores da região”.

Além da conveniência, a localização dos bares flutuantes faz deles um sucesso entre os navegadores. “É uma região abrigada, raramente sofrendo os efeitos de ventos fortes e mar agitado”, explica Thiago. Na opinião de José Jonceli de Aquino “é uma das melhores baías para ancorar barco”. Então fica mais fácil se divertir: “Quem gosta de agitação e muita festa acaba tendo como destino certo o Caixa D’Aço”, completa Thiago.

José Jonceli de Aquino e seu sócio são os únicos donos que moram no Araçá e também a abrir fora da temporada. Os outros flutuantes são de pessoas de Curitiba e Balneário Camboriú. Assim como os passeios de barco, os bares flutuantes são uma alternativa de renda para os moradores do Araçá enquanto a pesca fica proibida para que os peixes se reproduzam, período que inclui o verão.

Atenção ao cliente e à natureza

Geralmente, os bares flutuantes servem petiscos e bebidas. Isso preocupa quem trabalha com o mar. “Não degradamos a natureza. O lixo é colocado todo em sacos e levado para terra. Não vai nada para a água”, tranquiliza José Jonceli de Aquino, que em seu bar também tem um banheiro químico instalado.

Em entrevista a um jornal da região, a gerente de outro flutuante (à esquerda na foto abaixo) explica que existem dois tanques grandes debaixo de vasos sanitários. Quando enchem, são levados para terra firme e limpos por caminhões limpa fossa. Segundo a funcionária, o local ainda possui sistema de captação de água da chuva e planeja colocar placas para captar a luz do sol e um sistema de geração de energia eólica.

De acordo com a diretora da Vigilância Sanitária de Porto Belo, Léa de Lourdes Martins, o tratamento do esgoto é o que mais preocupa o órgão. Atualmente, “todos [os flutuantes] estão dentro dos conformes”. Mas foi só a partir da temporada 2009/2010 que receberam a autorização para funcionar. Os fiscais nunca encontravam os responsáveis para cobrar o projeto de tratamento de esgoto dos flutuantes.

O bar flutuante da esquerda possui um reservatório.
O outro oferece um banheiro químico. Clique para ampliar.
(Kunimund Krönke Junior)

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