quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Educação ambiental dentro da realidade dos alunos

As apostilas fazem parte de uma coleção
que também fala sobre educação para o trânsito,
empreendedorismo e turismo. (
Divulgação/Editora Opet)

Pela primeira vez, alunos da rede pública municipal de Porto Belo usaram apostilas de educação ambiental com conteúdo adaptado à realidade local. Durante os meses de maio e junho, cerca de 900 estudantes de 1ª a 5ª séries aprenderam − através de textos, imagens e atividades propostas − sobre a interferência do ser humano na natureza e porque é importante conservar o meio ambiente.

A coordenadora pedagógica de 1ª a 5ª série, Valdirene Dietrich, diz que o material é usado para complementar o conteúdo dos livros didáticos. Segundo Valdirene, todo trabalho desenvolvido pelas escolas nesse sentido começa pelos “pequenos” para que levem os ensinamentos para casa. “Minha filha estuda em escola municipal. Ela reclamou que o pai jogou papel para fora do carro durante uma viagem. Acredito que o trabalho deu resultado.”


De acordo com a servidora, os professores dizem que tem seu trabalho facilitado. “As apostilas incentivam a observação no caminho entre a casa das crianças e a escola e a jogar o papel do lanche no lixo.” Valdirene afirma que a prefeitura está trabalhando junto ao comércio e às empresas do município para a instalação de lixeiras coloridas, usadas na coleta seletiva, para que o trabalho de conscientização seja mais efetivo.

Antes da chegada das apostilas, que também abordam educação para o trânsito, empreendedorismo e turismo, a educação ambiental era trabalhada em sala quando surgiam temas relacionados ao meio ambiente no material didático, caso os alunos tivessem dúvidas ou em projetos feitos pelas professoras regentes.



No final de 2007, a Fundação Municipal de Cultura organizou uma competição entre as escolas municipais. Cada uma devia decorar seu bairro com enfeites de Natal produzidos com materiais recicláveis. “O importante foi conscientizar a comunidade para a importância de reutilizar”, diz a professora Márcia Regina da Silva Pinheiro, na época diretora da Escola Básica Municipal Nair Rebelo dos Santos, localizada no bairro Vila Nova.

Alunos de escola estadual também reutilizam materiais

Alunos da Escola de Educação Básica Tiradentes
simulam o julgamento de um crime ambiental.
(Soleci da Silva Ferreira)
Como parte da rede estadual de ensino, a Escola de Educação Básica Tiradentes une diversas matérias na Educação Ambiental. Em 2009, enquanto alunos aprendiam a transformar o óleo de cozinha em sabão, a professora de Matemática aproveitou para ensinar a pesar e calcular preços. Durante a aula de Artes, os alunos fizeram maquetes de monumentos com materiais recicláveis, principalmente poliestireno, mais conhecido como isopor. Além disso, foi apresentado um teatro simulando o julgamento de um crime ambiental.

Em 2007, o Clube de Ciências Profª Getulina Samagaia transformou fantasias de Carnaval em brinquedos. Eles foram doados a crianças pobres do Sertão do Valongo, comunidade quilombola de Porto Belo. Antes, participantes do clube montaram computadores com peças em bom estado e os entregaram para a mesma comunidade.

Para o arquiteto Amilcar Bogo, especialista em sustentabilidade, a reciclagem pode ser entendida errado e se tornar um incentivo ao consumo. “Às vezes os professores propõe uma competição. ‘Vamos ver quem recicla mais lata de alumínio?’ Para ter mais material para reciclar, a criança pede que a mãe compre mais refrigerante e o pai tome mais cerveja.” Antes da reciclagem, deve-se reduzir o consumo e reutilizar o produto.


A palavra dos especialistas e o que diz a lei

Segundo o consultor em Educação Ambiental Fábio Deboni, no texto “Debatendo alguns mitos e chavões da Educação Ambiental (EA) Brasileira”, “ainda prevalece no Brasil uma visão de Educação Ambiental voltada apenas a questões comportamentais dos indivíduos. Foca-se em atividades voltadas a ‘ensinar’ comportamentos ‘ecologicamente corretos’, à luz de uma visão prescritiva de EA (como um médico que passa uma receita do que o paciente deve tomar)”.

Para Deboni, ensinar Educação Ambiental significa fazer o aluno refletir sobre suas atitudes. De certa forma, a Política Nacional de Educação Ambiental (lei 9.795/99) guia os professores nessa direção, porque se deve considerar “a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade”.

A lei também busca “o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos”. Por isso, “a educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica”.

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